terça-feira, 20 de maio de 2008

Soenga

As peças cruas são colocadas num buraco de terra e faz-se uma fogueira no centro para as ir aquecendo.

Ao fim de bastante tempo, já as peças estão suficientemente quentes e há bastantes brasas. Começa-se a colocar as peças umas em cima das outras.

Depois de todas empilhadas, coloca-se ao seu redor a lenha, não pode ficar nenhuma abertura e é necessário estar sempre a tapar o que o fogo vai consumindo. Se assim não for, as peças não ficam todas cozidas e entra bastante ar, baixando a temperatura.

Chega a uma altura e deixa-se de pôr lenha. Espera-se que a temperatura suba um pouco mais (consegue ir aos 900ºC).

A fase seguinte é colocar o mais rapidamente possível caruma, para que não se perca temperatura.

Depois coloca-se terra até que o buraco fique quase todo tapado. Desta forma, as peças terminam de cozer e cria-se uma atmosfera redutora (sem oxigénio) e as peças ficam negras.

No dia seguinte, abre-se o buraco com bastante cuidado para não se partir nada.

No passado ano, o Museu de Alcora, convidou-me a ser comissária e participante da exposição de ceramistas portugueses contemporâneos. Na altura convidei o Heitor Figueiredo, Karin Somers, João Costa, João Carqueijeiro e Virginia Fróis. Uma vez que nesse ano, Portugal era o país convidado, aproveitei para convidar o oleiro César Teixeira, que de contemporâneo não tem nada, mas muito para mostrar de uma técnica de cozedura primitiva. São muito poucos os oleiros que ainda usam este método para cozer os seus trabalhos.
É uma forma de cozer bastante dura. Como vêm pelas fotos, obriga a um esforço físico muito grande. Demasiado calor e muito fumo. Nada bom para a saúde, ainda por cima, foi no verão e Alcora é no Mediterrâneo.....fazem ideia da temperatura no local??
Mas os resultados finais justificam o esforço. As peças ficam com umas tonalidades e brilhos negros. Os espanhóis ficaram fascinados com o César. Esperemos que ele não pare.

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