quinta-feira, 29 de julho de 2021

Vasos para suculentas






Há poucos anos fui desafiada por uma cliente para lhe fazer uns vasos para as suculentas. Na altura o desafio pareceu-me estranho, uma vez que era fazer "objetos com utilização prática". Aceitei e acabei por lhe ir tomando o gosto. Vejo-os como pequenas esculturas a serem habitadas pela natureza. Agora, quase sempre faço uns poucos para cada fornada que tenho pela frente e digo a mim mesma que ficarão para as minhas suculentas..... raramente ficam. Eu ainda só tenho dois!! 

segunda-feira, 26 de julho de 2021

Réplicas azulejos

 





Nos passados meses de Abril e Maio, eu e o Pedro Santos fizemos mais 1250 réplicas de azulejos. 
Estes azulejos foram para uma habitação particular, na Rua de Antero de Quental,  que infelizmente, como já é habito, tem a obra atrasada. 
Havia a obrigatoriedade de manter o suporte igual, ou seja, azulejos retangulares com medidas e um biselado especifico, mas a cor não tinha que ser o azul original. Mandamos fazer os azulejos numa oficina em Pombal e depois seguiram-se os testes de cores para o cliente aprovar. Aqui não houve dificuldade na afinação de cor com o original, por não ser o pedido pelo cliente, a dificuldade (chamar-lhe-ia antes paciência)  foi repetir 1250 vezes exatamente o mesmo processo (vidrar, raspar e lavar o excesso, enforna e desenforna diversas vezes...). Do início ao fim, de forma artesanal.  Tudo que não são trabalhos da minha autoria, tenho convidado o Pedro a trabalhar comigo e até à data, a funcionarmos em equipa, em pleno. Venham mais encomendas!!

sexta-feira, 9 de julho de 2021

Fornada de lenha


Depois de produzir os meus trabalhos no Porto, tenho que os transportar ainda em cru para serem cozidos no meu forno de lenha, na aldeia de Outeiro, Bragança. Há muitos anos que todo o meu trabalho é cozido desta forma, a maior parte das vezes, feito em registo solitário. Às vezes, tenho a sorte de alguns amigos quererem ir assistir ou ajudar, o que minimiza o esforço que uma fornada acarreta fisicamente. O fotógrafo João Monteiro, disponibilizou-se a fazer o registo desde processo. Deixo-vos aqui este diaporama, fruto desse acompanhamento. Obrigada João!!

https://www.youtube.com/watch?v=fGX_e33-HVc&ab_channel=SofiaBe%C3%A7a

quinta-feira, 8 de julho de 2021

3º Bienal de Cerâmica da Letónia "Martins Awards 2021"

 

"Montanhas"
Grês, porcelana, técnica da lastra, cozedura a 1200ºC em forno de lenha. 2018.  240 x 80 x 4 cm.


Inaugurou no passado dia 15 de Junho a exposição da 3ª Bienal de Cerâmica da Letónia,  "Martins Awards2021", no Daugavplis Mark Rothko Art Center, em Daugaviplis, na Letónia. 

De cerca de 500 candidaturas, foram selecionadas 120 de 38 países de todo o mundo. A minha obra, "Montanhas" foi uma das escolhida.

A exposição pode ser visitada até dia 17 de outubro.  

https://www.rothkocenter.com/en/ekspozicija/martinsons-award-2021


segunda-feira, 5 de julho de 2021

Consequências na matéria

"Os Solitários"                      

Grês, técnica da lastra, cozedura a 1270ºC em forno de lenha. 2021. 37 × 77 × 7 cm


Pequeno texto da folha de sala da exposição:

"Meu querido,

Enviei-te fotos de alguns dos trabalhos que fui fazendo desde que nos conhecemos. Lentamente foste servindo de mote ao meu percurso. Depois, com o confinamento e a nossa reaproximação, foste assumidamente o meu "muso" (as mulheres não gostam de reconhecer, mas eles existem, felizmente).

 Quem conhece a minha obra e já leu sobre ela, sabe que as minhas influências são a natureza e as relações humanas.

 Com o confinamento perdi a possibilidade de me basear em ambas, restaram-me as memórias das minhas caminhadas pelo monte e as pedaladas na bicicleta. Mas faltava-me a relação humana. O contacto físico e as conversas com a família, com os amigos, amantes, desapareceu.

As nossas conversas deram bons frutos na minha criação (modéstia à parte). Construí histórias imaginárias, umas bonitas, outras nem por isso, mas sempre imaginárias. Toda a nossa troca de conversas foi virtual.  Fui-te estudando e usando aquele teu lado mais interessante, que aos poucos ias revelando.

 Sem que me perguntasses o porquê, fui partilhando o meu trabalho, e foste-me ajudando a decidir o caminho. Foi bom nunca teres perguntado nem percebido a razão.

 Na realidade usei-te (descaradamente) para conseguir produzir esta obra. De outra forma ficaria uma exposição narcisista e sem "corpo".

 Cada peça tem um significado, o título pode orientar, mas também pode seguramente induzir em erro. Deixo essa dúvida, esse esclarecimento, para um dia quem sabe o discutirmos, quando não tiveres medo da minha presença física.

 Durante o confinamento fizemos companhia um ao outro. Recuso-me a acreditar que trocássemos mensagens diárias se não fossem interessantes para ti também. Tu reclamas, irritas-te comigo, mas gostas dos meus disparates (vá, admite).

 A exposição é dedicada a ti, mas não o tornarei público. Preservo a privacidade de ambos.

Não tenho habilidade nenhuma com as palavras, mas sem me alongar, creio que te escrevi o essencial.

 Fecha-se um ciclo, mas desejo que esta amizade que fomos construindo ao longe, se aproxime e perdure. Tu irritas-me com "pontos e as vírgulas", mas quando te deixas de detalhes mínimos, és um prazer.

 Uma coisa que acho que nunca percebeste, o meu sentido de humor e o ser sarcástica (e de tonta não ter nada). Características que dificultam muitas vezes a comunicação quando a sintonia não é plena.

 Um beijo bom para ti e obrigada

Sofia"

domingo, 4 de julho de 2021

Performance "Terra Abandonada" - Mértola

 








"Terra Abandonada é um conjunto de esculturas cerâmicas que são deixadas ao abandono em locais públicos estratégicos e onde é definida uma orientação inicial pela artista da forma e movimento de cada peça, sendo depois continuada pelas intervenções dos elementos naturais aos quais as obras ficam expostas. Neste processo, as formas e matérias iniciais vão-se degradando com o tempo, deixando lugar a novas formas controladas e dirigidas pela natureza. 

Sofia Beça escolheu Mértola para deixar uma das suas peças de "Terra Abandonada"

A Perfomance foi na Horta da Malhadinha / Centro de Agroecologia de Mértola, e foi seguida de um Encontro- Partilha sobre paisagens passadas e futuras, com Sofia BeçaSusana Goméz, arqueóloga do Campo Arqueológico de Mértola e Pedro Nogueira, coordenador do Centro de Agroecologia de Mértola."

 A Performance decorreu no dia 10 de Junho.

sábado, 3 de julho de 2021

sexta-feira, 2 de julho de 2021

Consequências na matéria

 


Sofia Beça, escultora cerâmica, expõe pela primeira vez em Mértola o seu trabalho que, embora radicado na escultura e na cerâmica, assume-se como multiforme e convoca as artes visuais de forma abrangente, rompendo os limites da área disciplinar na qual se inscreve. Nas obras apresentadas em “Consequências na Matéria” a noção de paisagem é abordada a partir de murais de parede ou pequenas obras escultóricas, ancoradas na técnica da lastra, usando o forno de lenha para a cozedura das suas peças. Ondulações, montanhas, vales ou jardins são descobertos em obras que desafiam a nossa perceção ótica e intersectam as fronteiras da pintura e da escultura. Outras, de cariz mais tridimensional, remetem-nos para questões de demarcação e de conquista. Podemos imaginar marcos ou soldados estilizados que defendem os seus territórios inscritos na sua pele feita de grês. 

Alejandro Ratia, escritor e crítico de arte espanhol, realça esta faceta de Sofia Beça da seguinte forma: “A artista transforma-se em topógrafa. Descreve ou inventa uma paisagem. E dentro dessa atividade topográfica encontra-se também a marcação de território através de marcos ou pontos geodésicos. Estas marcas modernas convivem com outras mais tradicionais, muitas vezes ligadas ao culto religioso, como por exemplo cruzes ou estrelas. Uma das principais funções da escultura foi precisamente esta: a demarcação de limites. O que significa também dotar o território de um sentido, uma função primordial a que Sofia Beça regressa. (…) No entanto, em Trás-Os-Montes, onde a artista cuida do seu forno de lenha, é ainda com pedras que se demarcam os terrenos. Poder-se-á aqui aludir a uma política do território, se aqui introduzirmos os títulos de propriedade ou os sinais de conquista” 

Sofia Beça deambula assim entre a Paisagem e a História, mas não esquece temas tão atuais como o isolamento ou a solidão, materializados em esculturas de uma abstração dialogante e de uma força capaz de aprofundar os sentimentos que temos perante elas. Paradoxal é a sua obra intitulada “Não, não estamos todos no mesmo barco” numa clara alusão à situação pandémica que atravessamos e em particular à condição assimétrica do mundo das artes. 


Tiago Guedes 

Comissário da exposição 

2021