Deambulando pelo mundo em
direcção às origens
Deambulando…
Sem rumo, orientação ou
direção definidas, pelo mundo ou através dele…
Por territórios, por gente e
pessoas… que edificam relações afetuosas, de amizade, amor e desamor: viagens.
O conjunto de trabalhos
“Branco da China” ou “Made in China” e, especificamente, “Made in China –
Habitáculos de felicidade” tratam a leveza do branco da porcelana, com apego reflectido,
em organizações compositivas metódicas e melódicas.
Uma pausa para um chá!
Em alguns destes objectos as
sonoridades compostas por Jorge Queijo criam ambientes e convidam a uma relação
com o fruidor mais aproximada e atenta que segreda ao ouvido. São “percursos
sonoros” que entrelaçam o Oriente com o Ocidente mas também incorporam sons do
universo do trabalho da Sofia Beça: o rachar e estalar da lenha quando arder no
forno, a sensação de calor que a pele dos objectos contém.
Estes “Percursos Sonoros”
sugerem também, pelas suas formas, instrumentos musicais de sopro, mas cuja
organicidade e plasticidade facilmente associamos ao princípio da vida vegetal
e animal: são as sementes, os casulos, os óvulos.
Luzes e sombras, cores e
tonalidades, temperaturas, cheiros, texturas e sons…
De terra, com terra, água e
fogo, de argila, com trabalho… com as mãos…
“A terra, com efeito,
ao contrário dos outros três elementos, tem como
primeira
característica uma resistência. Os outros elementos podem ser hostis, mas não
são sempre hostis. A resistência da matéria terrestre, pelo contrário, é
imediata e constante.”
Gaston Bachelard, in A terra e os devaneios da
vontade: ensaio sobre a imaginação das forças
Bachelard
confronta-nos com diversas categorias da Imaginação e com a ideia de uma experiência
cognitiva material (ou a imaginação das mãos) - essa imaginação material e
dinâmica, expressa através dos padrões recorrentes dos quatro elementos
alquímicos (terra, água, ar e fogo), é, por Bachelard, considerada a linguagem
primária do inconsciente.
A imaginação material
desafia a resistência e as forças concretas, num corpo-a-corpo com a
materialidade do mundo, numa atitude dinâmica e transformadora.
É preciso que um
devaneio encontre a sua matéria, é preciso que um elemento material lhe dê sua
própria substância, sua própria regra, sua poética específica – expressão -
materialização – possibilidade de socialização. No trabalho da Sofia Beça a
matéria e o resultado já foi eleito há muitos anos - a Cerâmica.
Os painéis cerâmicos
”Deambulando” ou “Deambulando nas Montanhas” trilham caminhos e remetem para terenos
xistosos, estratificados e que acumulam História. São do tempo no nosso espaço
– e procuram orientar-se, ou serem conduzidos num caminho que tem como repouso
a casa… as origens. Mas
“sabemos que deixou de haver tempo para nos olharmos
a fuga só é possível dentro dos fragmentados corpos
e um dia......quem sabe?
chegaremos”
a fuga só é possível dentro dos fragmentados corpos
e um dia......quem sabe?
chegaremos”
Al Berto, in Tentativas de regresso a casa
No regresso das viagens da
Sofia Beça, dos passeios ou mesmo devaneios… está sempre presente o cheiro e a
cor da terra quente que aguarda a chuva. Um movimento de saída e entrada
enriquecidos pela experiência que é viver.
“...movemo-nos lentamente para
fora de nossos corpos
e devastamos, devastamos...”
e devastamos, devastamos...”
Al Berto.
in Truque Tóxico
Rute Rosas, Porto, outubro, 2017
Artista Plástica – Escultora, Professora do
Departamento de Artes Plásticas na Faculdade de Belas Artes da Universidade do
Porto, PhD Teacher e Membro Integrado do I2ADS – FBAUP.
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