Regresso
às Origens
De tradição secular e com
raiz na cultura Árabe, o Azulejo, implantou-se na Península Ibérica mas
desenvolveu-se, particularmente, em Portugal, expandindo-se talvez mais do que
em qualquer outro país europeu, ao longo dos inúmeros períodos da História da
Arte e da Cultura Ocidental.
Podemos observar inúmeros exemplares
desta técnica com expressão artística em pavimentos medievais de Palácios ou
Igrejas que remontam aos séculos XIII e XIV, como por exemplo na abadia de
Alcobaça ou no claustro da Sé de Lisboa, mas igualmente em painéis murais,
revestimentos interiores e exteriores dos mais diversos edifícios disseminados
por praticamente todo o território português e que permitem viagens no tempo
por mais de quinhentos anos de tradição.
No entanto, será nas
soluções geometrizantes da azulejaria enxaquetada que encontramos referentes
mais diretos aos trabalhos patentes nesta exposição da Sofia Beça.
Quem conhece o seu percurso
artístico dos últimos vinte anos não se irá surpreender com este Regresso às Origens.
A Sofia continua,
sistematicamente, a sua dedicação à Cerâmica como ferramenta tecnológica de
expressão artística. A materialização das suas inquietações ou anseios tem-se
afirmado pelo apuramento, refinamento e audácia nos procedimentos técnicos com
resultados plásticos diversos, seja no que diz respeito à volumetria, às
dimensões ou às diferentes modalidades expositivas.
Os trabalhos mais recentes
parecem apelar a uma revisitação de passados. Por um lado, a um passado
histórico e cultural com tradição na azulejaria e mosaico dos últimos quinhentos
anos e, por outro lado, a um passado mais recente e particular decorrente da sua
experiencia vivencial.
O alto contraste na cor, tradicionalmente
obtido pela utilização de engobes e vidrados, é conseguido, nestes trabalhos, pelo
contraste entre pastas de cores e chamotes diferenciados cozidos em forno a
lenha e que interferem nas variantes cromáticas ou de tonalidade.
A sugestão de volumetrias,
de planos geométricos, de perspetiva – tão característicos da azulejaria com tradição
e vocação pictórica – são transpostos para murais que sublinham os planos
reais, os volumes e texturas ou para objetos isolados com relevos que acentuam e
distinguem massas de dimensão diferenciada.
A racionalidade das estruturas
geométricas é caracterizante destas composições de estrutura simples – vejam-se
os objetos biselados e as múltiplas variantes volumétricas – e parece
contrastar com a organicidade da manufaturação, da origem das matérias ou dos
procedimentos utilizados. A Sofia reclama um regresso, uma revalorização do que
é primário, primitivo pelo que é essência e essencial.
Decorrente de um exercício
constante, diário, e que parece confundir-se com qualquer outra tarefa do
quotidiano, entre a racionalidade obsessiva e a subjetividade ritmada dos
procedimentos, quase catártica, Sofia Beça, expõe composições abstratas simples
e com padrões repetitivos resultantes da ação incansável
de um fazer, fazer, fazer… que apela ao retorno… a um passado mais ou menos
longínquo mas distante…
… ao princípio.
Rute
Rosas
Maio 2016
Professora
Auxiliar Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto – FBAUP
PhD
Teacher
Departamento
de Artes Plásticas
Artista
Plástica
Escultura
www.ruterosas.com
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