No último numero da revista americana "Ceramics - Art and Perception", publicaram um artigo sobre a exposição que fiz, faz agora dois anos, em Drathen, na Holanda, intitulada "From Womb to Tom". O artigo deveria ter saído na altura, mas mais vale tarde que nunca.
Para quem quiser ler em inglês, é só clicar nas imagens, para os que gostam de simplificar e aguentam um artigo longo, aqui vai a tradução:
A escolha de Paulien Ploeger
A escolha de Paulien Ploeger
Enquanto recentemente algumas fronteiras da Europa desaparecem e a Leste estas se deslocam, a Sudeste a fronteira ainda é feita da água que separa a Península Ibérica do Continente Africano.
Durante a primavera de 2008, a De galley De Lawei, em Drathen, ofereceu ao público holandês a possibilidade de conhecer peças únicas deste canto da Europa.
A exposição "Do Ventre ao Túmulo - refúgios e habitats", apresentou as peças da ceramista Sofia Beça.
Esta exposições foi organizada por Paulien Ploeger, que foi convidada pela galeria para apresentar um evento surpreendente, tendo sido anteriormente responsável por projectos onde a arte da Lituânia foi o tema principal.
Com esta nova exposição, com a artista portuguesa Sofia Beça, surge de novo em destaque a arte de um país até agora desconhecido.
"Numa Europa em mudanças, isto é muito importante", diz Paulien. "Nós estamos conscientes da nossa identidade nacional e das diferenças regionais. É importante que essas diferenças sejam preservadas para prevenir que se perca esta rica palete cultural da nova Europa".
A exposição "do Ventre ao Túmulo - refúgios e habitats", mostrou o trabalho tridimencional de Sofia Beça. Esta ceramista recebeu em Dezembro de 2007 uma nomeação na Bienal Internacional de Cerâmica de Aveiro com a peça "Borboletear", exposta em Drathen. Também em anos anteriores recebeu idênticos prémios, no país e no estrangeiro. Participou no simpósio "Amakusa Ceramic Art", em Hondo, no Japão e representou Portugal no "VII Simpósio de cerâmica de Avellaneda", em Buenos Aires, Argentina.
O trabalho de Sofia Beça é elaborado a partir da tradição cerâmica portuguesa e dos seus interesses pessoais. Dois dos temas mais importantes da ceramista estão patentes na exposição "refúgios e habitats", materializando estes conceitos numa forma pessoal e a partir do seu historial. O uso das cores, com muito vermelho, lembra África e a terra espanhola e portuguesa.
O tema "refúgios" tem tudo a ver com a imagem ancestral do modo de vida do ser humano. Desde o início, o Homem escolheu as cavernas como o seu habitat, espaço que lhe dava a protecção ideal. Também nas crianças, que gostam de fazer cabanas e espaços para esconderem os seus segredos, é possível reconhecer estes instintos ancestrais.
Em todo o ciclo da vida de "do ventre o túmulo" é demonstrada esta necessidade animal e humana de criar refúgios.
O trabalho de Sofia Beça foi muito inspirado neste tema universal. Ela materializa refúgios de pessoas e animais de uma forma muito humorística e pessoal.
O segundo tema desta exposição tem a ver com a envolvente dos animais, os seus habitats. Também as pessoas cada vez mais criam espaços à sua volta para se protegerem da sociedade complexa de hoje em dia. Mas, neste ponto, parece que perdemos a noção da importância da natureza. Sofia Beça tenta, com o seu trabalho, dar forma à importância deste tema.
As instalações nos pavimentos e paredes em Drathen foram complementadas com as fotografias de Rui Costa, que nos deu um olhar microscópico dos habitas, e com o som de Gustavo Costa, cuja música foi propositadamente concebida para o evento.
Complementando a exposição de uma forma mais abrangente, foram efectuadas, antes da inauguração, duas conferências.
No que respeita ao percurso de Sofia Beça, uma das conferências se afigura mais importante, nomeadamente sobre a confluência do passado europeu com a cultura árabe na Península Ibérica. Muitos conhecimentos nas áreas das ciências, poesia e filosofia tiveram a sua divulgação pelo sul da Europa. Os vestígios desta influência são hoje visíveis na arquitectura, como está patente nos azulejos e "zillïj´s" dos murais da famosa Alhambra, em Granada.
A conferência abordou a relação entre a arquitectura e a arte cerâmica.
Desta forma, a exposição contribuiu para um melhor entendimento do passado cultural e histórico da arte do Sudeste da Europa, criando um ambiente fértil para a troca de novas ideias.
Como Paulien Ploeger afirmou "onde as culturas se encontram e as pessoas trocam ideias, a nossa mentalidade tem a possibilidade de florescer e os artistas participam, com o seu trabalho, para uma comunicação visual estimulante".
5 comentários:
Parabéns! Muito merecido e por isso mais vale tarde que nunca.
Efectivamente um trabalho com uma comunicação visual estimulante.
E de uma organicidade que pessoalmente me agrada.
Fiquei sem pio......
Mais vale tarde que nunca :) Beijos da Lieke!
Que bom ver-te aqui Lieke. Também estás de parabéns pelo artigo e a Paulien também.
Beijo grande para as duas
Parabéns Sofia!
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