"Os Solitários"
Grês, técnica da lastra, cozedura a 1270ºC em forno
de lenha. 2021. 37 × 77 × 7 cm
Pequeno texto da folha de sala da exposição:
"Meu querido,
Enviei-te fotos de alguns dos trabalhos que fui fazendo
desde que nos conhecemos. Lentamente foste servindo de mote ao meu percurso.
Depois, com o confinamento e a nossa reaproximação, foste assumidamente o meu
"muso" (as mulheres não gostam de reconhecer, mas eles existem,
felizmente).
Quem conhece a minha obra e já leu sobre ela, sabe que as
minhas influências são a natureza e as relações humanas.
Com o confinamento perdi a possibilidade de me basear em
ambas, restaram-me as memórias das minhas caminhadas pelo monte e as pedaladas
na bicicleta. Mas faltava-me a relação humana. O contacto físico e as conversas
com a família, com os amigos, amantes, desapareceu.
As nossas conversas deram bons frutos na minha criação
(modéstia à parte). Construí histórias imaginárias, umas bonitas, outras nem
por isso, mas sempre imaginárias. Toda a nossa troca de conversas foi
virtual. Fui-te estudando e usando aquele
teu lado mais interessante, que aos poucos ias revelando.
Sem que me perguntasses o porquê, fui partilhando o meu
trabalho, e foste-me ajudando a decidir o caminho. Foi bom nunca teres perguntado
nem percebido a razão.
Na realidade usei-te (descaradamente) para conseguir
produzir esta obra. De outra forma ficaria uma exposição narcisista e sem
"corpo".
Cada peça tem um significado, o título pode orientar, mas
também pode seguramente induzir em erro. Deixo essa dúvida, esse
esclarecimento, para um dia quem sabe o discutirmos, quando não tiveres medo da
minha presença física.
Durante o confinamento fizemos companhia um ao outro.
Recuso-me a acreditar que trocássemos mensagens diárias se não fossem
interessantes para ti também. Tu reclamas, irritas-te comigo, mas gostas dos
meus disparates (vá, admite).
A exposição é dedicada a ti, mas não o tornarei público.
Preservo a privacidade de ambos.
Não tenho habilidade nenhuma com as palavras, mas sem me
alongar, creio que te escrevi o essencial.
Fecha-se um ciclo, mas desejo que esta amizade que fomos
construindo ao longe, se aproxime e perdure. Tu irritas-me com "pontos e
as vírgulas", mas quando te deixas de detalhes mínimos, és um prazer.
Uma coisa que acho que nunca percebeste, o meu sentido de
humor e o ser sarcástica (e de tonta não ter nada). Características que
dificultam muitas vezes a comunicação quando a sintonia não é plena.
Um beijo bom para ti e obrigada
Sofia"