«…Sofia Beça não cessa de
aprender nem de se mover. A experiência e a filosofia do Oriente foram
integradas no seu trabalho, sobretudo depois da sua recente e intensa estadia
na China. Duas coisas importantes regressaram com a artista depois desta
viagem: por um lado, a experiência mágica da paisagem chinesa, em particular a
das montanhas, e por outro lado, o uso da porcelana. Sob a epígrafe “Made in
Jingdezhen”, apresenta-nos uma série de peças feitas com este material, que até
à data a artista não tinha usado. Jingdezhen é a cidade da porcelana. Grande
parte da sua população dedica-se a esta arte. Sofia Beça recolheu ensinamentos
dessa tradição, transladando-as depois para a linguagem contemporânea. A
artista reconhece a porcelana introduziu outras transparências, outras cores,
mais suaves e mais abstractas ,e uma maior feminilidade ao seu trabalho. Também
confessa que isto a conduziu a territórios mais próximos da pintura…»
«… O território pode ser
transformado em objeto de sacralização, mas também de devastação. Os incêndios
que ocorrem nas florestas portuguesas (e galegas) são um dos exemplos mais
terríveis desta destruição da natureza. O ano de 2017 foi especialmente
trágico. O fogo queimou uma imensa massa de floresta, destruiu casas e levou um
número esmagador de vidas. A instalação "Floresta Portuguesa" é uma
elegia dedicada a essas árvores e a essas pessoas. Apresenta-nos uma floresta
de troncos segmentados e petrificados. Por entre os fantasmas das árvores,
vemos uma fotografia de Rui Pinheiro, que reflete vestígios da presença humana
no meio da desolação. Esta obra, de ressonâncias trágicas, mostra uma vez mais
que Sofia Beça é uma artista aberta à vida, que deseja firmar as suas
experiências e os seus compromissos através da cerâmica, que se encontra também
aberta à experimentação e colaboração com outras meios e disciplinas, como a
fotografia ou a música. O ambiente sonoro de Jorge Queijo surge como um
elemento chave neste projeto expositivo que também se quer coletivo ...»
Alejandro Ratia
Escritor e Critico de arte
Outubro 2018