terça-feira, 15 de março de 2016

Pequena entrevista na Revista ATTITUDE

 "Da terra para o céu"
Mural para habitação particular com três pisos. S. Mamede Infesta 2013

 "The eye"
Colecção do ministério da cultura do Egipto 2014

"És a minha flor"

Talents - Sofia Beça, o vício do barro

“Viciada em Barro”, Sofia Beça não é uma ceramista tradicional e tem “alguma aversão” em dizer-se artista, por serem tantos os equívocos no uso da palavra. Com obra pelo mundo, é em casa, no Porto, que trabalha o barro. Embala as peças cruas e faz 250km até à aldeia de Outeiro, Bragança, para as cozer em forno de lenha. Minuciosamente moldadas, as suas criações – esculturas, murais e painéis únicos – pedem espaço, levando alquimia e poesia à arquitectura.

O que há da Sofia em cada peça?
O que me apaixona e magoa, as minhas emoções; a minha ligação à natureza, mas sobretudo os bloqueios e reacções do ser humano – no modo como me afectam.

É uma obra emocional forte. Não é dada à cerâmica de bibelô…
Ui, não! Quero dar ao barro outro mundo, o da arquitectura, por exemplo. Mesmo as esculturas mais pequenas, vejo-as como maquetas de obras maiores. Gosto da grande escala. Trabalho muito a textura, uso grés. São criações com peso, mas que expressam delicadeza, alguma leveza.

O processo de trabalho é sempre artesanal?
Trabalho com as mãos. Em Junho tenho uma exposição em Córdova, “Regresso às Origens”, que vai precisamente às raízes da cerâmica que eu procuro. Faço as cores do barro, trabalho sem moldes, de modo rudimentar. Vou expor peças de parede; é a minha forma de honrar algo português, o azulejo, e expressar o que me incomoda – a perda da nossa identidade, da nossa cultura.

Daí, também, o forno de lenha?
Também. A chama e o fumo mudam tudo, peça a peça. E preciso deste isolamento. Fico horas a olhar para o forno, a ver o pôr-do-sol, ouvir os animais…

Tem obra em muitos países, nos vários continentes. E Portugal?
Sou mais reconhecida além-fronteiras. Tenho um percurso essencialmente internacional. E há um vínculo grande a Espanha: foi onde descobri o meu caminho (com o meu mestre Arcadio Blasco, infelizmente já falecido), é onde tenho bons amigos ceramistas. Mas gostava de sentir algum reconhecimento no meu país. E quero muito fazer um mural no Porto.


Virgínia Capoto
Janeiro de 2016

Revista ATTITUDE ( março/abril 2016)