sexta-feira, 30 de setembro de 2011

"Monstros" em vez da Bienal de Cerâmica

Tenho por habito publicar um texto com uma imagem referente ao tema que falo. Hoje não o farei para não estragar a surpresa da senhora vereadora da cultura de Aveiro.
Supostamente deveria inaugurar no próximo sábado pelas 16.00 a Bienal de Cerâmica de Aveiro, mas ontem passei por lá para ver se o meu trabalho estava montado nas condições que pretendo e deparo-me com uma situação que inicialmente não entendi. Às vezes sou muito lerda. Só depois de ler a noticia que foi publicada no jornal de noticias de terça-feira é que percebi.
A senhora vereadora da cultura, para além de ter o cargo politico da câmara municipal de Aveiro, também é "criadora" e até dá um nome à sua criatividade "Monstros". Pois bem, passo a transcrever um texto:
"Tendo em conta a reutilização de grandes electrodomésticos colocados no lixo, ou seja, os designados "monstros", a Vereadora do Pelouro da Cultura, Maria da Luz Nolasco, decidiu fazer o reaproveitamento de algum desse material para ficarem como suporte das peças da Bienal. Como são lixo, os tais "monstros" que as pessoas não precisam e estão na lixeira disponíveis, foram transformados e constituem os suportes que sustentam os objectos de arte num espaço museológico. Em tempos em que os recursos são escassos, podemos aproveitar e reutilizar o que já existe"  refere Maria da Luz.
A ideia é original e não irá colocar em segundo plano as peças “os monstros não vão competir com a peça, são puros e meros suportes e não se impõem a qualquer leitura dos objectos porque não é essa a intenção. Acho que não vamos entrar em conflito com aquilo que é o produto artístico.”

Pois foi isto que vi, uma exposição de eletrodomésticos, intitulada "Monstros", pintados de amarelo, azul e roxo. Uns ao alto, outros deitados, os frigoríficos com luzes florescentes dentro. Temos de tudo por lá. Criatividade não falta ali.

O problema desta senhora é que tinha outra exposição para inaugurar, ou seja as obras seleccionadas da Bienal.  Portanto, nada melhor que "decorar" com esses trabalhos a sua exposição. Temos peças tridimencionais dentro de frigoríficos (portanto só se podem ver de um lado), peças em cima de fogões, que me fizeram recordar os anos 50 e 60 quando a donas de casa acabavam de limpar os fogões e os fechavam decorando com um paninho e uma jarrinha de flores de plástico. Televisões com os "tarecos" em cima......Sim, foi isso mesmo que eu vi. As obras de cerâmica de todos os autores são tratadas como "tarecos".
Os mais felizardos ( ? ) (estou nesse grupo), apesar daquela desgraça toda, são os que têm trabalhos de parede. A esses tocou-lhes uns andaimes amarelos com umas placas de mdf pintadas de cinza.

Conclusão; esta senhora iluminada, conseguiu fazer com que as peças passassem a ter todas um aspecto de lixo. Eu não sei se estão lá trabalhos de cerâmica com qualidade, pelo simples facto de não se conseguirem ver. Obras que só por si falam, são "comidas" por toda aquela lixeira em arco-íris.

Eu e todos os autores que estamos representados nesse local, somos vitimas de um crime mural. Os artistas têm vários direitos e um deles é o direito moral.

Infelizmente, no regulamento da bienal diz que não se podem retirar as obras até ao encerramento da mesma, porque senão eu tinha retirado o meu trabalho dali. Tenho vergonha de ter participado numa bienal que pensava ser seria e respeitosa. Vergonha de ter uma foto do meu trabalho no catálogo, vergonha de ter recebido uma menção honrosa, perdão, menção horrorosa.

Eu participava nesta bienal por ser o único concurso de cerâmica no país e com qualidade, por sermos poucos portugueses a participar, não pelos prémios, que já recebi alguns por lá, mas sim pelo dever de incentivar os portugueses a estarem representados aí. Somos poucos e assim seremos ainda menos. Se a ideia da vereadora é fazer desaparecer uma bienal com participantes de qualidade, está no melhor caminho. Não voltarei a dar o meu contributo, nem recomendo a mais ninguém.

5 comentários:

Zé alberto disse...

Lamento Sofia, a pedanteria de certos portugueses que se apanham em lugares de decisão, é um monstro atroz, que essas pessoas passeiam como um lúlú de colo.

Bjos.

life with art disse...

Apetece-me dar-te um abraço, olhar-te nos olhos e deixar que falem.
Sofia, que tristeza!!!
Gente, não monstros...
Beijinhos da Conceição

Anónimo disse...

A vereadora não tem culpa, culpa tem quem a escolheu.
Aveiro e os artistas não merecem isto.
Ravara

Anónimo disse...

A vereadora não tem culpa, culpa tem quem a escolheu.
Aveiro e os artistas não merecem isto.
Ravara

Aida Freitas Ferreira disse...

Se a senhora queria promover o seu talento com uma instalação nada a prendia disso ... usar uma bienal de cerâmica para tal ... só demonstra a sua falta de inteligência cultura e sensibilidade artisitica. É de por as mãos na cabeça ... (durante toda a semana li sobre as polémicas no jornal mas nunca pensei que chegasse a isto). Os artistas têm direitos que devem ser respeitados.